Títulos, braçadeira, liderança e mística. A morte de Jorge Costa deixou um vazio no balneário do FC Porto. É essa a certeza dos antigos colegas, Edmilson e Rubens Júnior, que destacam a importância que o antigo capitão e dirigente portista tinha junto dos jogadores. Em exclusivo ao Desporto ao Minuto, os ex-atletas do FC Porto lembram Jorge Costa com saudade e revelam o papel determinante desempenhado no Dragão.
"Além de nosso capitão, depois do João Pinto, era uma pessoa muito marcante. Dentro de campo, nos jogos e nos treinos, era bastante forte e viril. Não era à toa que lhe chamavam o 'Bicho' [risos]. Não dava mole para ninguém. Fora de campo, era uma pessoa fantástica. Era um amigo, um brincalhão... É uma pena. Quando vi a notícia, fiquei muito triste. Vai fazer muita falta ao FC Porto", começa por dizer Edmilson, avançado brasileiro que fez 54 jogos ao lado de Jorge Costa, nos dois anos em que vestiu a camisola azul e branca.
Por seu turno, Rubens Júnior sempre viu em Jorge Costa um "líder" capaz de cumprir a missão de manter a harmonia entre o plantel e a direção do FC Porto com toda a distinção.
"Guardo muito na memória o Jorge como a voz da equipa. Seja dentro de campo, no balneário ou com a direção. Fazia a ligação entre a equipa e a direção, negociando mediante o momento. Era muito leal e fiel a isso. O papel do líder é muito complicado, porque um líder tem de ver o lado do clube e também do plantel. Não pode ir muito para um dos lados. Tem de mostrar que cada um tem a sua razão. Saber fazer isso não é para qualquer um. É preciso de ter a confiança dos dois lados. Ele tinha essa facilidade. Vimos isso quando ele jogava e, agora, como dirigente", aponta o antigo defesa canarinho, que esteve em campo com Jorge Costa por 39 ocasiões.
As memórias de Edmilson
Convidado a recordar as memórias mais marcantes que viveu ao lado de Jorge Costa, Edmilson não esqueceu os títulos que conquistou ao serviço do FC Porto com a contribuição direta do 'Bicho'.
"Lembro-me de várias coisas. Lembro-me da Supertaça Cândido Oliveira, quando ganhámos ao Benfica, por 5-0. O Artur marcou, depois marquei eu, e ele fez o terceiro, se não me engano. Depois, o golo dele na Luz contra o Benfica. São muitas histórias. Até partilhei uma fotografia nossa com as cinco bolas. Foram dois anos fantásticos e ganhámos praticamente tudo", lembra o antigo extremo brasileiro.
Lucho pode seguir pisadas de Jorge Costa
Jorge Costa tinha voltado ao FC Porto pela mão de André Villas-Boas, há cerca de um ano, após a saída de Jorge Nuno Pinto da Costa da presidência. O antigo camisola 2 abdicou da carreira de treinador para assumir funções de diretor para o futebol do FC Porto. No fundo, Jorge Costa era visto como um símbolo da mística portista, algo muito difícil de igualar, aos dias de hoje.
"Acho que a imagem dele... Quando as pessoas olhavam para ele no balneário viam o histórico. Mas, por vezes, o histórico não é suficiente para ganhar o respeito dos jogadores. Mas, além do histórico de campeão e capitão, ele tinha a parte da liderança e do conhecimento. Ele conseguia passar isso para os jogadores e identificava os problemas dos jogadores. Dentro de um balneário, é muito importante ser certeiro", vinca Rubens Junior, que não deixa, porém, de identificar um elemento, que mora na equipa técnica de Francesco Farioli, que pode seguir as pisadas de Jorge Costa.
"O perfil do Jorge era muito importante, tal como o Lucho [González] tem. São perfis que ajudam muito os novos jogadores e aqueles que só estão no clube há um ou dois anos. Com eles, esses jogadores não se vão acomodar nos treinos e nos jogos. São pessoas que não podem faltar dentro do balneário", remata o antigo defesa, que, em Portugal, também vestiu a camisola do Vitória SC.
Morte trágica
Recorde-se que Jorge Costa perdeu a vida no passado dia 5 de agosto, depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória no centro de treinos do FC Porto, no Olival. O dirigente foi transportado em estado grave para o hospital de São João, no Porto, mas acabou por não resistir e morreu, poucas horas depois.
A perda do histórico capitão do FC Porto motivou inúmeras homenagens tanto no clube azul e branco, como nos clubes rivais, que não deixaram de lamentar a morte do também antigo internacional português.
Legado ímpar
O legado de Jorge Costa é, de resto, inquestionável. 18 títulos nacionais, entre campeonatos, Taças de Portugal e Supertaças, além de três conquistas internacionais, onde se incluem a Liga dos Campeões, a Taça UEFA - agora denominada de Liga Europa - e uma Taça Intercontinental.
Tudo isto, claro, com a camisola do FC Porto, clube pelo qual fez 383 jogos oficiais, tendo marcado 25 golos. Pela seleção nacional, Jorge Costa alcançou a marca redonda dos 50 jogos, mas foi pelos sub-20 que conquistou o Campeonato do Mundo por Portugal.
O imponente defesa central fez formação no FC Foz e chegou ao FC Porto para integrar os sub-17. Foi galgando escalões antes de ser emprestado a Penafiel e Marítimo. Em 1992 regressou à Invicta para se fixar na equipa principal dos dragões. Chegou a sair, para o Charlton, também por empréstimo, após um desentendimento com o treinador Otávio Machado, mas voltaria para ajudar José Mourinho a conseguir conquistar dois títulos europeus. Antes de terminar a carreira de jogador, Jorge Costa ainda passou pelos belgas do Standard Liège.
Seguiu-se, posteriormente, a carreira de treinador, começando como adjunto no Sp. Braga e chegando a treinador principal no Minho. Passou, ainda por Olhanense, Académica, Arouca, Farense, Académico de Viseu e AVS, sem esquecer as passagens internacionais por Roménia (Cluj), Chipre (AEL Limassol e Anorthosis) Gabão (seleção), Tunísia (CS Sfaxien), França (Tours) e Índia (Mumbai City).
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