Passava das 17h00 quando Fernando Pimenta aterrou, esta segunda-feira, no aeroporto Humberto Delgado. À sua espera estiveram cerca de dezena de jornalistas, que quiseram recolher as declarações do canoísta português, recente campeão europeu na categoria K1 5000m, revalidando o título conquistado em 2024, e ainda vencedor de K1 1.000m. Ambas as provas decorreram em Racine, na República Checa.
"Melhor resposta não podia dar. Em 2016, fui muito criticado, falou-se do Fernando Pimenta de forma negativa e no ano a seguir consegui títulos europeus e mundiais. Depois de Paris [Jogos Olímpicos], senti um carinho dos portugueses e não questionei se iria continuar a carreira ou não. Pensava sim se valia a pena apostar e ir atrás dos resultados, porque às vezes não recebemos o devido reconhecimento nas nossas modalidades. A ausência do Fernando Pimenta e dos resultados faria com que as pessoas dissessem 'Afinal, ele faz falta'. Por outro lado, eu gosto de competir por Portugal, de conquistar títulos, de ouvir 'A Portuguesa', de ver a nossa bandeira ao mais alto. Não consigo deixar de competir ao mais alto nível", começou por dizer o atleta do Sport Lisboa e Benfica, de 35 anos, lamentando a falta de um número de pessoas no local.
"O momento de o aeroporto estar repleto de gente vai acontecer no dia certo. Tenho a consciência que isso vai voltar a acontecer. Se esperava isso hoje, não. Atualmente, já se banaliza os resultados do Fernando Pimenta. O meu colega, o João Pimenta, dizia que o problema do 'Fernando Pimenta é fazer parecer fácil'. As pessoas dão valor quando eu não consigo, quando consigo é mais do mesmo, mas isso requer muito trabalho, disciplina, sacrifício, tempo abdicado da família e dos meus filhos. Tentar dar o máximo valor a estas conquistas, porque um dia o Fernando Pimenta vai acabar, pelo menos em alta competição. Até lá, vou tentar dar o máximo de visibilidade à minha modalidade, ao nosso país, porque os meus colegas de K4 tiveram excelente prestações. Com uma meia dúzia de atletas, fomos o terceiro país mais medalhado à frente de uma Alemanha, que é uma super potência, da Polónia, da Chéquia, que acolheu a competição. Grandes potências mundiais ficaram atrás de nós, com meia dúzia de 'trocos'. Neste momento, andamos a enviar atletas a prestações, tive dois colegas que vieram no sábado de modo a poupar nas despesas, outros vieram ontem..."
Além dos jornalistas, nota para a presença do presidente do Comité Olímpico de Portugal, Fernando Gomes. "Temos de fazer gestão das verbas que temos, não temos os recursos de outros países, mas lutamos com aquilo que tempos. Estava a trocar mensagens com o Fernando Gomes e nunca pensei que ele estivesse aqui. Foi uma agradável surpresa e isso poderá ter impacto. As grandes empresas portuguesas não podem ter medo de arriscar nos atletas portugueses. Tenho de deixar um recado. Vê-se grandes empresas portuguesas a usas a imagem dos atletas estrangeiros cá em Portugal. Nós também temos qualidade e ter aqui o presidente simboliza o apoio à modalidade, que merece", vincou Fernando Pimenta.
Sobre as comparações com Cristiano Ronaldo, o atleta natural de Ponte de Lima, vice-campeão olímpico em Londres 2012, em K2 1.000, e medalha de bronze em Tóquio 2020, em K1 1.000, assumiu espelhar-se no craque do futebol: "Sem dúvida. É um exemplo da longevidade."
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