Guterres critica uso da Carta da ONU como "menu 'à la carte'"

O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou hoje os Estados-membros que usam a Carta fundadora das Nações Unidas como um "menu à la carte", seguindo o propósitos e princípios do documento apenas quando lhes convém. 

secretário-geral da ONU, António Guterres,

© Kay Nietfeld/picture alliance via Getty Images

Lusa
26/06/2025 16:00 ‧ há 4 horas por Lusa

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Numa cerimónia de celebração dos 80 anos das Nações Unidas, Guterres lamentou um "padrão bastante familiar" observado no seio da organização, em que a Carta da ONU é seguida ou ignorada conforme a conveniência de cada caso. 

 

"Sejamos claros: hoje, vemos ataques aos propósitos e princípios da Carta da ONU como nunca antes", afirmou.

"A Carta das Nações Unidas não é facultativa. Não é um menu 'à la carte'. É a base das relações internacionais. Não podemos nem devemos normalizar as violações dos seus princípios mais básicos", frisou Guterres, sem mencionar nenhum membro em particular. 

Refletindo sobre a história da fundação da ONU, o secretário-geral recordou que a organização surgiu "das cinzas da guerra" e estabeleceu-se como "uma semente de esperança", sob a visão e promessa de que a paz é possível quando a humanidade se une.

Desde o primeiro dia, disse Guterres, as Nações Unidas têm sido uma força de construção num mundo frequentemente marcado pela destruição e um ponto de encontro onde rivais se podem unir para resolver problemas globais.

"Podemos traçar uma linha direta entre a criação das Nações Unidas e a prevenção de uma terceira guerra mundial", sublinhou o ex-primeiro-ministro português perante a Assembleia-Geral da ONU.

Guterres, cujo segundo mandato à frente da ONU termina no final de 2026, destacou ainda o facto de as Nações Unidas serem uma instituição "onde os mais pequenos são representados ao lado dos mais poderosos", além de ser um motor de progresso para os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a ação humanitária.

A cerimónia, que decorreu de forma discreta, arrancou com a exibição de um vídeo narrando a criação da ONU em 1945, na Conferência de São Francisco, e o que isso significou para a arquitetura da ordem mundial.

Além de discursos dos líderes dos vários órgãos da ONU, a cerimónia contou ainda com a apresentação musical da orquestra da Academia Internacional de Estudos Artísticos e Culturais, que prestou tributo aos 80 anos da ONU com um arranjo especialmente dedicado à organização.

Apesar do marco histórico que hoje se assinala, muitos dos assentos reservados aos Estados-membros na Assembleia-Geral estavam vazios.

Ao destacar o papel da ONU a levar esperança aos cantos mais desesperados do mundo, António Guterres lamentou, por outro lado, as violações à Carta fundadora, como o uso da força contra as nações soberanas, violações do direito internacional, ataques contra civis, uso de comida e água como arma de guerra ou a erosão dos direitos humanos.

"Neste aniversário, exorto todos os Estados-membros a cumprirem o espírito e a letra da Carta; as responsabilidades que ela exige; e o futuro que ela nos convoca a construir. Pela paz. Pela justiça. Pelo progresso. Por nós, os povos", concluiu.

A ONU celebra hoje 80 anos desde que a sua Carta fundadora foi assinada, efeméride que chega durante uma grave crise multidimensional da instituição, que tem em risco a sua influência e orçamento.

Apesar dos esforços de António Guterres para tentar convencer o mundo de que a ONU é hoje mais vital do que nunca, a organização fundada após a Segunda Guerra Mundial tem na atualidade a sua influência desacreditada e o seu pleno funcionamento em risco devido aos cortes de financiamento de nações como os Estados Unidos (EUA), país que acolhe a sede da instituição, em Nova Iorque, e o seu maior doador.

Apesar da carga de trabalho da ONU aumentar anualmente, os recursos estão a diminuir em todos os setores, o que obrigou Guterres a fazer reduções significativas no orçamento e cortes de postos de trabalho.

[Notícia atualizada às 16h28]

Leia Também: ONU destaca coragem e sacrifício da resistência moçambicana

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