Numa entrevista à estação televisiva pública sérvia, RTS, na sexta-feira à noite, o líder sérvio afirmou que a polícia tem sido "incrivelmente paciente e tolerante em todo o lado", apesar de sofrer "espancamentos todos os dias".
Vucic argumentou que a polícia não conseguiu defender adequadamente a sede do Partido Progressista Sérvio (no poder), atacada pelos manifestantes nas últimas noites, por estar dispersa noutras zonas de conflito.
"Atacam-nos", acrescentou, "porque aqueles que protestam não toleram opiniões diferentes, não suportam a democracia e, por isso, só querem destruí-la".
Numa mensagem publicada na sexta-feira à noite, o comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa, Michael O'Flaherty, lamentou "o uso desproporcional da força pela polícia" e reiterou o apelo às autoridades para que "evitem o uso excessivo da força, acabem com as detenções arbitrárias e reduzam as tensões".
Na mesma entrevista, o Presidente sérvio voltou a admitir antecipar as eleições legislativas, mas avisou a oposição e manifestantes de que pretende terminar o seu mandato, em 2027.
Vucic defendeu a existência de um prazo "legal e constitucional" ligado ao fim do seu mandato.
"Estes prazos expiram na primavera de 2027. Quando as eleições forem necessárias, serão convocadas, e haverá eleições antecipadas", disse.
Também alertou a oposição para "não se surpreender e repetir que é muito cedo", como já tinha acontecido nas eleições antecipadas de 2023, três anos antes do previsto, que resultaram numa vitória esmagadora da coligação liderada pelo partido de Vucic.
"O Estado não é um brinquedo", advertiu o Presidente, antes de voltar a afirmar-se como o líder de que o seu país necessita neste momento.
"Se querem um Estado sem Vucic, tê-lo-ão daqui a um ano e meio. Mas devem ter cuidado com a ideia do país que vão encontrar", acrescentou. Na semana passada, Vucic, no poder há 13 anos, anunciou que não procuraria um novo mandato nas próximas presidenciais.
O chefe de Estado sérvio acusou a oposição de ser um grupo de "políticos imaturos" que aspiram a "chegar ao poder, mas não através de eleições".
"Ninguém se admire se depois disserem que os chamei demasiado cedo", avisou.
Na terceira noite consecutiva de confrontos na capital, Belgrado, pelo menos 38 pessoas foram detidas, registando-se ainda ferimentos em seis agentes policiais.
Meios de comunicação social críticos do Governo nacionalista sérvio noticiaram hoje que os serviços de emergência assistiram pelo menos 10 feridos nos protestos.
Os protestos dão continuidade à onda de descontentamento popular contra o Presidente, após a tragédia do colapso da estação ferroviária de Novi Sad, que matou 16 pessoas, em novembro do ano passado.
O que começou inicialmente como uma manifestação contra a falta de transparência do Governo na resposta à tragédia transformou-se num firme apelo contra Vucic e o seu Partido Progressista Sérvio (SNS).
O presidente do SNS, Milos Vucevic, reconheceu abertamente no início desta semana que o partido quer antecipar as eleições para o final de 2026, embora o chefe de Estado e as autoridades eleitorais "competentes" tenham a palavra final.
A Sérvia procura formalmente a adesão à União Europeia, mas Vucic mantém laços estreitos com a Rússia e a República Popular da China e enfrenta acusações sobre a repressão das liberdades democráticas desde que assumiu o poder.
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