Emma Maria Mazzenga, de 92 anos, vive em Pádua, em Itália, e está a ficar sem competição. Com 1,55 metros de altura, é uma velocista de elite, com quatro recordes mundiais na faixa etária acima dos 90 anos, e está a ficar sem adversárias para enfrentar.
"Em Itália sou só eu. No campeonato mundial era eu e uma norte-americana", explicou Emma ao telefone com o Washington Post, em julho deste ano.
No ano passado, quebrou o recorde mundial dos 200 metros ao ar livre para mulheres acima dos 90 anos com um tempo de 51,47 segundos. Um mês depois, conseguiu superar esse mesmo recorde por um segundo. Em ambas as provas competiu contra si própria.
E Emma gosta de vencer. Uma vez, conta ao jornal, deslocou o ombro durante uma corrida na Alemanha ao atirar-se para a frente de uma competidora na linha da meta. "Estava prestes a ultrapassar-me", recordou. Acabou por vencer a corrida. Na altura tinha 79 anos.
Caso de estudo internacional
Investigadores em Itália e nos Estados Unidos estão a estudar os músculos, nervos e as mitocôndrias (central energética da célula) de Emma, para entender melhor como consegue continuar a correr aos 90 anos.
Por alguns parâmetros, a 'jovem' velocista aparenta ter uma aptidão cardiorrespiratória de alguém na faixa dos 50 anos e as funções mitocondriais dos músculos ao nível das de uma pessoa saudável de 20 anos, referem os cientistas.
O caso de Emma é parte de um esforço de vários anos de investigadores italianos em perceber como os músculos mudam consoante envelhecemos.
Marta Colosio, investigadora de pós-doutoramento na Universidade Marquette, nos Estados Unidos, e a primeira autora do estudo de caso, disse que não conseguia encontrar uma pessoa de 90 anos que pudesse comparar-se. "Está a envelhecer", assumiu, acrescentando: "Mas consegue fazer coisas que as pessoas normalmente não conseguem fazer aos 91 anos."
Quando em janeiro quebrou o recorde mundial de 200 metros pista interior para o seu grupo etário com o um tempo de 54,47, Emma diz que "acabou nos jornais", o que, segundo sublinha, "nunca tinha acontecido".
Foi então que Simone Porcelli, co-autor de um estudo e professor de fisiologia humana na Universidade de Pavia, em Itália, descobriu a sua história e percebeu que seria "a pessoa perfeita" para o projeto que estava a liderar.
Ao estudar atletas de elite mais velhos, os investigadores conseguem aprender mais sobre o que é possível à medida que envelhecemos, explicou Chris Sundberg, o outro líder do estudo sobre Emma e diretor do Laboratório de Fisiologia Muscular Integrativa e Energética da Universidade Marquette.
A atleta é uma professora de ciências reformada que ainda assina revistas científicas. Por isso, quando Simone a abordou, ficou feliz em participar.
Depois de alguns testes, Chris explicou: "Quer seja pela genética ou pelo estilo de vida - ou uma mistura de ambos -, consegue manter a comunicação entre o cérebro, os nervos e os músculos num nível muito mais saudável do que o que normalmente vemos numa pessoa de 90 anos."
As partes funcionais do músculo de Emma parecem estar "quase a compensar" as suas fibras musculares de contração rápida, que já demonstram alguma idade.
Os próximos desafios
O conselho que Emma deixa para outros atletas? Conhecerem os seus limites, irem ao médico e serem consistentes ao correr várias vezes numa semana.
De momento está a treinar para correr os 100 e 200 metros, em setembro, na cidade italiana de Catânia. Depois, em novembro, vai começar a treinar em pista coberta para a temporada de inverno.
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