O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou, este sábado, que "este país dos fogos nem sempre é devidamente compreendido pela outra parte do mesmo país", tendo ainda exaltado não só o papel dos operacionais que têm vindo a combater os vários incêndios que assolam Portugal, mas também a ajuda das populações.
"Há um país, este país dos fogos, que nem sempre é devidamente compreendido pela outra parte do mesmo país, que somos todos nós. […] Nas metrópoles e nas cidades, o fogo é outra coisa, e tem-se dificuldade em perceber o drama de pequenas aldeias", disse o chefe de Estado, em declarações à imprensa.
Marcelo Rebelo de Sousa, que falava nas cerimónias fúnebres do homem de 65 anos que morreu num acidente com uma máquina de rasto, na terça-feira, enquanto ajudava no combate às chamas, em Mirandela, enalteceu também o papel das populações, que "foram excecionais".
"Mais do que consolar, é agradecer [a] todos os que serviram a Proteção Civil, ao longo deste mês contínuo muito, muito, muito cansativo e desgastante. As populações foram excecionais", disse.
E reiterou: "Muitos emigrantes vieram, nomeadamente da Europa, passar o verão com os seus compatriotas e familiares, e houve esse esforço conjunto das forças que combatem o fogo com grande dedicação e heroísmo e da população."
Marcelo argumentou ser premente "sensibilizar todo o país" para a necessidade de investimento na prevenção de incêndios, apontando que "tem de haver solidariedade, para que o país todo compreenda".
Lembrou ainda que as famílias que perderam entes queridos terão uma resposta "que, com as medidas adotadas ontem, pode ser aumentada e reforçada, que não havia em 2017". "Não havia nada na lei que permitisse indemnizar vítimas mortais. […] Há um leque de medidas que se vai aprendendo de fogo para fogo", disse.
"Penso que todas as entidades que têm a ver com esta área devem refletir. O Governo já abriu caminho para que as medidas sejam tomadas, também já disse que é fundamental haver um acordo [...] na sociedade, para um plano a longo prazo, [...] com meios reforçados em todo o país para a prevenção", disse, ressalvando que também Espanha, França e Itália estão "a aprender" com o flagelo dos incêndios, que "são sempre diferentes, quando parecem iguais".
"[Os fogos] são cada vez mais difíceis de prevenir, e mais difíceis de enfrentar. A área é maior, os fogos são diferentes. Por isso digo que não basta haver leis; é preciso que as leis sejam cumpríveis. O cadastro [das florestas] é uma realidade que é fundamental. Quando se disse que o cadastro se fazia num ano, achei que era impossível", sustentou.
O chefe de Estado referiu, além disso, que "é uma missão pública que o Estado - leia-se, as autarquias, - se substitua aos privados que não conseguem" assegurar a limpeza dos terrenos, e salientou ser necessário que as leis sejam aplicadas e aplicáveis.
"De cada vez que ocorre uma situação como esta, é altura para se melhorar aquilo que não funcionou. Há coisas que não funcionam, apesar de previstas na lei", refletiu.
[Notícia atualizada às 16h59]
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