Lai, com 77 anos, foi preso em 2020 ao abrigo de uma lei de segurança nacional imposta por Pequim depois dos protestos antigovernamentais em 2019 na região administrativa especial chinesa.
O empresário da comunicação social está a ser julgado sob a acusação de conspirar com forças estrangeiras para pôr em risco a segurança nacional e conspirar para publicar material sedicioso.
O julgamento de Lai, fundador do Apple Daily, um dos meios de comunicação locais mais críticos do governo de Hong Kong, prolonga-se há quase meio ano, muito além da estimativa inicial de 80 dias, e é visto amplamente não apenas como um julgamento da liberdade de imprensa como também um teste à independência judicial no centro financeiro asiático.
Não é ainda claro quando será proferido o veredicto do tribunal.
O procurador do Ministério Público Anthony Chau desenvolveu esta manhã argumentos sobre a lei de segurança que enquadra as acusações de conluio, sustentando que uma imposição de sanções deve abranger funcionários e não apenas Estados. Chau deverá continuar a apresentar outras questões de princípio durante a tarde e proferir uma declaração final na terça-feira.
Antes, a acusação alegou que Lai pediu a países estrangeiros, especialmente aos Estados Unidos, que tomassem medidas contra Pequim, "sob o pretexto de lutar pela liberdade e pela democracia".
No primeiro dia do seu depoimento, Lai negou ter pedido ao então vice-presidente Mike Pence e ao então secretário de Estado Mike Pompeo que tomassem medidas contra Hong Kong e a China durante os protestos de 2019.
O advogado de Lai questionou-o sobre uma reportagem do Apple Daily dizendo que ele tinha pedido ao governo dos Estados Unidos para sancionar os líderes de Pequim e Hong Kong, e o empresário admitiu que deve ter discutido isso com Pompeo, pois não tinha motivos para duvidar da veracidade da reportagem do jornal, entretanto extinto, que ele fundou.
Lai disse, no entanto, que não teria incentivado sanções estrangeiras após a promulgação da lei de segurança nacional em 30 de junho de 2020.
As alegações finais foram adiadas duas vezes, primeiro devido ao clima e depois por preocupações com a saúde de Lai.
Na passada sexta-feira, o seu advogado, Robert Pang, informou que Lai sofreu perturbações cardíacas na prisão e os juízes fizeram questão que Lai fosse monitorizado e medicado.
O governo de Hong Kong acusou na passada sexta-feira os meios de comunicação estrangeiros de tentarem induzir o público em erro sobre os cuidados médicos de Lai, afirmando que foi lhe feito um exame médico, que não revelou anomalias, assim como foram adequados os cuidados médicos que recebeu.
Quando Lai entrou hoje no tribunal, acenou e sorriu para as pessoas sentadas na galeria do público e deu instruções breves à sua equipa jurídica, em voz alta, para que os presentes pudessem ouvir.
A detenção prolongada de Lai em regime de isolamento tem suscitado preocupações por parte de governos estrangeiros e grupos de direitos humanos.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes de ser reeleito em novembro, disse que falaria com o líder chinês Xi Jinping para solicitar a libertação de Lai: "Vou tirá-lo de lá", afirmou, segundo recorda a agência Associated Press.
Entretanto, numa entrevista com a rádio Fox News divulgada em 14 de agosto, Trump negou ter dito que salvaria Lai, mas sim que levantaria a questão.
"Já levantei a questão e farei tudo o que puder para salvá-lo", disse agora.
A China acusou Lai de incitar um aumento dos sentimentos antichineses em Hong Kong e disse que se opõe firmemente à interferência de outros países nos seus assuntos internos.
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