"Eu comprometi-me, também na próxima semana, na matéria da imigração e da nacionalidade, ter uma reunião com os membros do Governo, para podermos ver se conseguimos fechar este dossiê e chegar a consensos", afirmou André Ventura, em declarações aos jornalistas antes de uma reunião com o cardeal patriarca de Lisboa, Rui Valério.
Instado a detalhar esses contactos com o executivo, Ventura disse que ainda "só estão informalmente marcados".
"Penso que acontecerão na próxima semana. E são sobretudo reuniões de trabalho para se poder chegar a consensos sobre esta matéria importantíssima da lei da nacionalidade e das restrições à imigração", afirmou.
Questionado sobre que mudanças pretende o Chega em relação aos diplomas do Governo que entraram quarta-feira no parlamento, Ventura disse não concordar com alguns limites do executivo para que quem comete determinados graves possa ser condenado à sanção acessória de perda de nacionalidade.
"Porque é que há a questão dos 10 anos, em que se se cometer um crime e já for nacional há 10 anos não perde a nacionalidade, mas se for há nove perde?", exemplificou.
Por outro lado, disse querer mais limites ao reagrupamento familiar do que os previstos na proposta do Governo, que considerou "querer ser abrangente".
"Queremos corrigir algumas destas coisas nos projetos do Governo e ver se há abertura. Tanto quando sei até agora, não posso revelar muito porque não tenho autorização para isto, mas tanto quando sei, até agora da parte do Governo, há boa vontade para se poder fazer algumas alterações. É sinal que temos aqui caminho para fazer", disse.
Ventura foi questionado se notou na entrevista do primeiro-ministro, quarta-feira na RTP, sinais de uma maior disponibilidade para negociar com o Chega.
"Eu acho que há agora condições políticas - se houver boa vontade, que não houve em março do ano passado -, acho que o Governo percebeu que o crescimento do Chega e o reforço do voto no Chega, ao ponto de quebrar o bipartidarismo, é um sinal político claro. E este é um primeiro-ministro que reconheceu isso e que agora olha para a situação de forma diferente", considerou Ventura.
Para o líder do Chega, "é preciso passar dos cenários aos atos", ou seja, para negociações concretas à direita em matérias como a imigração, mas também a fiscalidade.
Na entrevista à RTP, o primeiro-ministro afirmou que procurará consensos políticos "se possível" com PS e Chega em simultâneo, mas admitiu que o partido liderado por André Ventura tem posições de "maior regulação" em matérias como a segurança ou imigração.
Questionado sobre a razão da sua reunião com o patriarca de Lisboa e se as posições do Chega sobre imigração não colidem, em parte, com as da igreja católica, Ventura disse ser a sua primeira audiência com Rui Valério, aproveitando o encontro com o candidato à Câmara Municipal de Lisboa, Bruno Mascarenhas.
"Será uma forma de nos conhecermos do ponto de vista político e transmitir também o nosso compromisso com valores que a igreja também tem, nomeadamente da luta pela vida, do combate à eutanásia e garantir que vamos lutar para que haja cuidados paliativos e dos mais idosos", disse.
Ventura admitiu que a igreja católica, "neste momento, não acompanha de forma plena" posições do Chega em matérias como a imigração ou o combate à criminalidade.
"Procurarei também sensibilizar o senhor cardeal patriarca para a justeza daquilo que são as nossas posições nessa matéria, acho que há todas as condições para que cada um, no seu caminho, faça um bom trabalho pela comunidade, e neste caso a comunidade é Portugal", disse.
Leia Também: Chega quer negociar proposta de IRS com mexidas nos escalões e deduções