Analistas antecipam preços do petróleo entre 80 e 100 dólares

Os preços do petróleo deverão manter-se elevados nas próximas semanas, entre os 80 e os 100 dólares por barril, podendo disparar caso o conflito no Médio Oriente se agrave, antecipam analistas ouvidos pela Lusa.

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Lusa
23/06/2025 19:55 ‧ há 4 horas por Lusa

Economia

Petróleo

A possibilidade de um bloqueio ao Estreito de Ormuz, onde transita cerca de 20% do petróleo mundial, é considerada o principal fator de risco geopolítico a curto prazo.

 

Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, destaca o comportamento contido do mercado após os ataques a instalações nucleares no Irão.

"Apesar da entrada dos EUA no conflito, o Brent [negociado em Londres e que serve de referência às importações nacionais], estabilizou nos 78 dólares", mostrando que os investidores "continuam a apostar num conflito temporário e numa resolução no curto prazo, que poderá passar até por uma mudança de regime no Irão", referiu.

Mas, avisa que, se houver um bloqueio formal de Ormuz, haverá "consequências significativas e disruptivas para o equilíbrio do mercado energético global".

O economista lembra que o Brent subiu dos 64 dólares no início de junho para os 78 e que a subida dos combustíveis em Portugal, com o gasóleo a aumentar hoje cerca de oito cêntimos por litro, "já reflete esse risco".

Já Filipe Garcia, economista da IMF -- Informação de Mercados Financeiros, salienta que, apesar do forte aumento do crude nas últimas semanas --- o contrato WTI, negociado em Nova Iorque, subiu mais de 40% desde maio ---, o mercado tem reagido com moderação.

"O encerramento de Ormuz não é o cenário central. Para o Irão e restantes países do Golfo, seria perder a sua fonte de receitas, e para os clientes mais importantes dos iranianos, como a China e a Índia, traria preços mais altos e indisponibilidade de produto", explicou.

"Israel e EUA estão cientes deste facto e não será de estranhar que a infraestrutura petrolífera iraniana não tenha sido ainda atacada -- e parece ser um alvo relativamente fácil", comentou.

Vítor Madeira, analista da XTB, é mais incisivo quanto aos riscos: "Um bloqueio do Estreito de Ormuz teria um impacto imediato e muito significativo, podendo o Brent subir até 25% nos primeiros dias. Se o bloqueio se prolongar, não se descarta uma escalada de mais de 50% no valor do barril. Isto teria impacto em todos os bens transportados e na inflação global", afirmou.

Apesar do alerta, o responsável reconhece que o cenário de escalada não é inevitável.

"Caso as operações militares dos EUA e de Israel sejam bem-sucedidas e consigam neutralizar as ameaças estratégicas, poderá ocorrer uma retração na intensidade do conflito. Isso criaria espaço para iniciativas diplomáticas e, como consequência, uma possível correção nos preços do petróleo", explicou.

"Neste cenário, o mercado tenderia a absorver o choque inicial e retomar uma trajetória mais estável", acrescentou.

Quanto aos combustíveis, alerta que "se o conflito se agravar, os reajustes podem ser mais acentuados e imediatos".

Gregor Hirt, diretor de investimentos globais da Allianz Global Investors, observa que a evolução das próximas semanas dependerá também da capacidade dos grandes produtores em estabilizar os fluxos.

"Os grandes produtores, especialmente a Arábia Saudita, podem compensar as disrupções no abastecimento, mas a maior parte das suas exportações passa também pelo Estreito de Ormuz. Uma libertação coordenada das reservas estratégicas --- que na União Europeia cobre cerca de 90 dias de importações --- pode ajudar a mitigar efeitos imediatos", apontou.

Os EUA têm reservas para cerca de 20 dias, embora sejam quase autossuficientes, e estima-se que a China tenha 30 dias.

A médio prazo, os analistas concordam que, em caso de estabilização geopolítica, o mercado voltará a ser guiado por fundamentos clássicos de oferta e procura.

"A componente especulativa, que hoje domina a formação de preços, tende a desaparecer - comportamento que já foi observado em conflitos anteriores de natureza semelhante", conclui Vítor Madeira.

Leia Também: "Perfurem, perfurem!" Trump pede aumento da produção de petróleo

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