Promovidas pela Comissão de Melhoramentos do Piódão, as festividades, habitualmente muito concorridas por parte da população local e de aldeias vizinhas, bem como de pessoas deslocadas no país e estrangeiro, iriam decorrer até domingo.
No entanto, os constrangimentos logísticos, com prestadores de serviços e visitantes impedidos de se deslocarem pelas estradas cortadas ou o receio de reacendimentos do incêndio, levaram os promotores a decidirem-se pelo cancelamento.
"Vamos cancelar porque não há condições. Éramos para ir buscar o palco ontem [quarta-feira] ao município, não o conseguimos fazer, hoje também não, há toda uma parte logística que está por fazer e não vamos ter tempo. E há aqui uma preocupação acrescida com os reacendimentos, a festa não é compatível com toda esta situação [do incêndio]", disse à agência Lusa Elsa Lopes, presidente da Comissão de Melhoramentos do Piódão.
Apesar das chamas que começaram, precisamente, na freguesia do Piódão na madrugada de quarta-feira, se manterem ativas noutros pontos de Arganil e em municípios vizinhos, a responsável disse terem existido "várias opiniões" da população, umas pela manutenção da festa, outras pelo seu cancelamento,
"É difícil decidir. Mas pensando em tudo, o que há para fazer e as preocupações acrescidas, o mais prudente é não fazer. Há estradas cortadas hoje, não sabemos se amanhã [sexta-feira] continuarão, e tudo isto não é compatível com estarmos a fazer esta parte logística", reafirmou Elsa Lopes, que nasceu e reside em Lisboa, embora se desloque várias vezes por ano ao Piódão, de onde a família é natural.
O extenso programa da festa incluía animação musical, tasquinhas e quermesse na praça principal do Piódão, um jantar comunitário de convívio na sexta-feira, jogos tradicionais, uma corrida de sacos à moda antiga, uma caminhada em redor da aldeia, numa zona agora ardida, ou uma missa e procissão de velas, entre outras iniciativas.
Também ouvido pela Lusa, o presidente da Junta de Freguesia do Piódão, José Lopes, era da opinião de que a festa deveria continuar, embora, eventualmente, com um programa mais reduzido, tendo notado que, dentro da própria organização, a cargo da Comissão de Melhoramentos, existiam opiniões diversas, entre os mais jovens e os mais velhos.
"Podia ser uma forma das pessoas se divertirem um pouco e esquecerem esta tragédia, que devastou o património florestal da nossa freguesia. Mas percebo que não se faça, porque os constrangimentos são muitos, há pessoas que foram embora, outras que cancelaram a vinda e muitas estradas cortadas para cá chegar", reconheceu José Lopes.
"As pessoas querem vir por Vide (Seia, Guarda), não podem passar, da Aldeia das Dez (Oliveira do Hospital) não podem passar, de Coja (Arganil) ainda anda o fogo na Mourísia e também não passam, não é fácil", esclareceu o autarca.
José Lopes revelou ainda que a paisagem florestal do Piódão está praticamente toda, "cerca de 98%" pintada de negro, subsistindo ainda chamas ativas junto da aldeia de Malhada Chã, num vale profundo no limite leste da freguesia e do concelho de Arganil, que faz fronteira com o concelho da Pampilhosa da Serra (Coimbra) e Covilhã (Castelo Branco).
De acordo com a página de internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, pelas 16h15 o incêndio de Arganil estava a ser combatido por 855 operacionais, apoiados por 288 viaturas e quatro meios aéreos.
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