Em declarações à agência Lusa, Rita Costa, diretora artística do Teatro Ibérico e responsável pelo texto, criação e encenação do espetáculo, definiu "Bairro Profano" como "uma aproximação ao que se passa no bairro", onde existem "turistas e fábricas de unicórnios", mas é, sobretudo, habitado por moradores em bairros municipais ou operários com "visões, necessidades e realidades socioeconómicas completamente diferentes" da nova dinâmica impressa no bairro.
"Necessidades mais básicas como elevadores que se mantêm por arranjar em bairros municipais, ou casas por pintar", disse, sublinhando, todavia, que os moradores "não se sentem ostracizados".
Um bairro que é mostrado como um "cartão postal" em que na frente "estão as fábricas de unicórnios e os investimentos modernos", enquanto "no lado de trás está o que ninguém lê" e o que ninguém lê são as realidades "distintas", muitas vezes "completamente opostas".
No lado invisível estão pessoas "com sentimento de pertença, muito altruístas e que, apesar de terem pouco, têm vontade de ajudar".
Como exemplo de bairros municipais citou a Curraleira, Picheleira e a Quinta dos Ourives, que fica a 500 metros da sede do Teatro Ibérico, instalado na antiga igreja do Convento de Xabregas.
"Quem são estas pessoas que habitam no bairro, o que ouvimos e podemos dizer sobre eles" é um dos eixos do espetáculo, onde duas atrizes trabalharão no "espaço nu do palco do Teatro Ibérico e onde o público está também colocado no palco" ainda que haja "apontamentos cenográficos" e onde o trabalho vai incidir, sobretudo, "na habitação", disse Rita Costa.
"Porque o objetivo é que o público venha conhecer as realidades da freguesia", o que é possível mudar e sem qualquer narrativa moral, que detesto", frisou.
Não se espere, por isso, que "Bairro Profano" seja uma peça de comparações embora mostre os "lados antagónicos" da freguesia e do bairro, disse Rita Costa.
O que os moradores dos bairros municipais pretendem é "ter infraestruturas que lhes permitam viver em condições e não se importam nada que do outro lado existam fábricas de unicórnios, muita gentrificação e sistemas e parcerias entre instituições que estão a manter segregadas muitas pessoas do outro lado que não têm nada", enfatizou.
Pessoas que acham que todo o investimento feito do outro lado do bairro "é importante e é bom, mas que se sentem esquecidas", disse.
Rita Costa acrescentou que o espetáculo está concebido para que o público possa intervir, manifestando-se e equacionando questões.
"Bairro Profano" tem também criação, interpretação e interpretação musical de Mariana Correia, cocriação, interpretação e texto de Catarina Caetano e criação musical e ambiente de Ricardo Martins.
Os figurinos são de Sofia Duarte, a coordenação técnica de Roger Madureira, que assina também o desenho, a operação de luz e o mapeamento vídeo, enquanto a operação de som é de Júlio Mazzeu.
O espaço cénico é de Otto e Roger Madureira e a construção de cenografia do Exército da Salvação.
A peça, que "repensa a vida no Beato", está em cena até 28 de setembro, com sessões de quinta-feira a sábado, às 21h00, e, ao domingo, às 17h00.
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