Um juiz federal em Nova Iorque rejeitou, esta quarta-feira, o pedido do Departamento de Justiça dos Estados Unidos para tornar públicas as transcrições do grande júri que indiciou, em 2019, Jeffrey Epstein.
Segundo o juiz Richard Berman, citado pela Associated Press (AP), a informação que consta nas transcrições "não é tão importante quando comparada com a informação e materiais que está nas mãos do Departamento de Justiça".
O juiz de Manhattan aponta ainda, citado pela AP, que nenhuma vítima testemunhou perante o grande júri que avaliava o caso. A única testemunha a fazê-lo foi, de acordo com Berman, um agente do FBI que "não tinha conhecimento direto dos fatos do caso e cujo depoimento foi, em grande parte, baseado em boatos".
Note-se que o agente em questão, que não é identificado, testemunhou nos dias 18 de junho e 2 de julho de 2019. A AP nota ainda que a restante apresentação por parte do grande júri que avaliava o caso consistiu numa apresentação de PowerPoint exibida na sessão do dia 18 e no registo de chamadas a 2 de julho. Foi mesmo no final deste dia que os jurados acabaram por votar, indiciando Epstein.
Tanto a apresentação como o registo das chamadas vão também manter-se em segredo.
As outras rejeições
A decisão de hoje marca a terceira vez que este pedido do governo é rejeitado por um juiz. Já no mês passado um juiz da Florida tinha rejeitado o mesmo pedido, feito pela administração Trump, para divulgar as transcrições em causa. Segundo o que explicou na altura a juíza Robin L. Rosenberg, o tribunal estava "de mãos atadas", dado que a lei apenas previa a divulgação das transcrições em alguns casos e que esta situação não se enquadrava.
Embora a juíza da Florida tenha reconhecido o interesse público no caso, enfatizou então que só uma decisão do Supremo Tribunal poderia permitir a divulgação das transcrições do júri e rejeitou o pedido de transferência.
Um juiz federal nova-iorquino rejeitou a 11 de agosto um pedido do executivo para divulgar as transcrições do depoimento secreto do grande júri que levou ao indiciamento por tráfico sexual de Ghislaine Maxwell, ex-namorada e cúmplice de Epstein. Segundo o juiz Paul A. Engelmayer, o argumento do governo de que tais declarações revelariam nova informação significativa sobre os crimes cometidos por Epstein e Maxwell "é falso".
O magistrado revelou que nos documentos nenhuma outra pessoa, além de Maxwell e Epstein, é acusada de ter tido relações sexuais com menores.
A moção do grande júri parece ser um 'desvio' da amplitude dos arquivos de Epstein que estão na posse do governo
Na decisão mais recente, Berman escreveu ainda, numa aparente referência ao Departamento de Justiça dos EUA, que o "governo era a parte lógica para dar uma revelação ao público acerca do caso Epstein".
O responsável indicou ainda que as transcrições do júri e respetivos depoimentos são apenas "excertos de boatos sobre a suposta conduta de Jeffrey Epstein".
Note-se que no sistema judicial norte-americano, compete a um grande júri federal determinar se há motivos suficientes para considerar que um crime foi cometido e que um determinado indivíduo deve ser formalmente acusado (indiciado).
Ao contrário dos jurados de um julgamento, o grande júri não determina a culpa ou inocência de um suspeito, e no caso Epstein concluiu que havia causa provável para emitir acusações, descrevendo as acusações específicas de tráfico sexual e conspiração para cometer tráfico sexual.
Recorde o caso
Epstein foi preso e acusado pela justiça federal de Nova Iorque em 2019, por tráfico sexual, por indicação de um grande júri federal, que concluiu que havia causa provável para emitir acusações, descrevendo as acusações específicas de tráfico sexual e conspiração para cometer tráfico sexual.
O milionário aguardava julgamento por estas acusações federais quando morreu na prisão, em agosto de 2019.
Após a morte de Epstein, a sua parceira Ghislaine Maxwell foi indiciada por um grande júri federal por acusações relacionadas com tráfico sexual e conspiração, decorrentes do seu papel em facilitar os abusos de Epstein, e foi posteriormente condenada em 2021.
O caso Epstein tem sido marcado pelo sigilo em torno dos materiais do grande júri e outros arquivos de investigação, gerando pressão pública e política para a divulgação de mais informação sobre, incluindo do próprio Trump na campanha eleitoral de 2024.
A alegada lista de clientes de Epstein, com celebridades e políticos influentes, tem sido o foco de várias teorias da conspiração entre apoiantes MAGA, movimento de apoio a Donald Trump.
[Notícia atualizada às 21h27]
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