"Eu acho que é muito preocupante que a CP, que é uma empresa pública com tutela direta por parte do Governo, tome uma decisão destas, eu diria que às escondidas, a meio do mês de agosto, sem dar uma explicação clara sobre porque é que ela é necessária", disse hoje o candidato à Lusa.
Em causa estão alterações ao serviço do comboio internacional Celta, que faz o trajeto Porto-Vigo, e que vai obrigar a transbordo em Viana do Castelo a partir de domingo, para permitir "garantir a continuidade do serviço".
Segundo a CP, esta é uma medida "excecional e temporária", sem indicar qual a data de conclusão dos "ajustes transitórios" no serviço que é operado em conjunto com a espanhola Renfe desde julho de 2013, ligando Vigo ao Porto com paragens em Valença, Viana do Castelo e Nine.
Manuel Pizarro questiona se a solução "é temporária, quanto tempo é que ela vai durar".
"Esta decisão é uma machadada na ligação entre o Norte e a Galiza, porque é evidente que uma ligação de comboio com transbordo a meio é uma ligação que perde a sua atratividade, é uma falsa ligação", sustentou.
O candidato autárquico atacou ainda a "má vontade do centralismo que reina em Portugal em relação às ligações entre o Norte e a Galiza", que agora foi "transformada num ato concreto de hostilidade contra o Porto e contra o Norte" ao alterar a ligação a Vigo.
"Acho que é especialmente grave que ninguém do Governo venha a terreiro dar uma explicação. Isso significa que o Governo está a desprezar o Porto e a desprezar o Norte nesta decisão. Está-nos a tratar como cidadãos de segunda, que nem uma justificação merecem", acusou, considerando a situação "preocupante e inaceitável".
Recordando que a ligação tem cerca de 120 mil utilizadores anuais, Manuel Pizarro, vê a necessidade de um transbordo como um prenúncio da "intenção da interrupção definitiva desta ligação", garantindo que se for eleito presidente da Câmara do Porto "haverá uma voz" contra o "centralismo absurdo".
"Por melhor que corra a operação de alta velocidade a ligar o Porto e Vigo, ela não estará operacional nos próximos cinco, seis, sete anos", pelo que "é inimaginável que durante esse longuíssimo período de tempo desapareça a ligação ferroviária direta entre o Porto e o Norte de Portugal e a Galiza".
A Renfe garantiu que o comboio internacional Celta, entre o Porto e Vigo, fará um "transbordo simples" em Viana do Castelo e continuará com os mesmos horários, adiantando apenas "motivos operacionais" como causa para a mudança no serviço.
O presidente da Câmara de Viana do Castelo, Luís Nobre (PS) disse hoje que vai vigiar a implementação "temporária" de transbordo no comboio Celta, prevista até "meados de dezembro", e reclama investimento na linha do Minho.
O Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular denunciou a "traição" de fazer alterações ao comboio internacional Celta em agosto, condenando a "má gestão" e garantindo que irá fazer tudo para repor os níveis de serviço transfronteiriços.
Também o candidato independente à Câmara do Porto Filipe Araújo acusou a CP de desinvestimento e desinteresse na ligação Porto-Vigo, uma "ligação estratégica para o Porto e para a região Norte".
Diana Ferreira, candidata da CDU ao Porto, responsabilizou o Governo pelas mudanças no comboio internacional Celta, incluindo-as num "alargado conjunto de problemas que importa resolver", e admitindo que "o município poderá, também, ter uma palavra a dizer sobre essa questão em concreto".
O candidato do BE à Câmara do Porto, Sérgio Aires, também acusou a CP de desinvestir no comboio internacional Celta.
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