Agricultores de Mirandela afetados pelo incêndio pedem ajuda ao Governo

Os agricultores de Mirandela afetados pelo incêndio, que consumiu 2900 hectares do concelho, querem ajuda do Governo para se reerguerem, depois de, hoje, se terem reunido na câmara municipal para darem conta dos estragos.

incêndios em Portugal, albergaria-a-velha

© PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP via Getty Images

Lusa
22/08/2025 20:29 ‧ há 3 horas por Lusa

País

Mirandela

O fogo destruiu todo o alimento que Teresa Assis tinha para o gado. A pastora de Frechas tem 149 ovelhas, mas agora não tem palha para dar aos animais, visto que o incêndio queimou os "40 rolos grandes" de fardos de palha, que tinha junto à curriça. "Ardeu tudo. Ainda começou a arder dentro da curriça, mas tivemos tempo de o apagar e palha não temos nenhuma", contou à Agência Lusa, acrescentado que tentou salvar a propriedade, mas os bombeiros não a deixaram, devido ao perigo.

 

Conseguiu salvar o gado, porque o tinha a pastar bem junto ao rio, mas não deixa de ser "uma tristeza muito grande". "Foi uma coisa muito descontrolada, foi uma tristeza, só quem visse, até metia dó. Tudo ardido, é triste, ainda comecei a chorar", recordou. 

Agora admite que tem de "pedir ajuda" para a comida do gado e, na sua opinião, o Governo devia "comprar palha ou comida para semear" e oferecer aos produtores afetados. Mas tem pouca esperança de que isso aconteça: "Tenho um palpite de que não, nunca tenho sorte", lamentou. 

Não foi apenas o alimento do gado de Teresa Assis que ardeu. Também as abelhas estão agora sem alimento, rodeadas de um cenário negro, coberto de cinzas. Centenas nem sequer sobreviveram.

À Lusa, José Domingos, presidente da Cooperativa de Produtores de Mel da Terra Quente e Frutos Secos, adiantou que arderam "cerca de duas mil colmeias" no incêndio de Mirandela, que alastrou aos concelhos de Vila Flor e Alfândega da Fé, mas também no incêndio de Freixo de Espada à Cinta, que chegou a Torre de Moncorvo, e de Foz Côa.

Desde que se lembra, "nunca houve tamanha catástrofe", que reconhece trazer "problemas graves" para os apicultores: "O mel está cada vez mais barato, as produções cada vez menores e os encargos com as colmeias são cada vez maiores. O apicultor já estava um bocado apertado, com o arder das colmeias, pior fica", disse. 

Por isso, a cooperativa está a fazer "pressão" para que as "entidades competentes" ajudem apicultores como Sónia Silva, de Freixeda, que perdeu um apiário no incêndio.

Quando viu o fogo aproximar-se das colmeias, ainda conseguiu salvar "12", mas quando voltou para retirar as restantes 20 já não conseguiu.

Acabaram por ser consumidas pelas chamas. Um prejuízo incalculável. "Se for 100 euros por colmeia, são dois mil euros, sem contar com o tempo, os gastos, o vir cá, o alimento, o tratamento, o estimulante", lamentou, sublinhando que também terá de suportar os gastos com outros dois apiários que tem, uma vez que tudo foi reduzido a cinza e as abelhas não têm alimento.

Assim, a apicultora de Mirandela pede que o Governo a ajude, com "alimento" ou "na aquisição de enxames": "Têm de nos ajudar, porque isto é uma calamidade", afirmou. 

Apesar de não pensar em desistir da atividade, admitiu que tenciona reduzir na produção. "Desistir não é para já", mas se antes pensava ter "200 colmeias", agora abandonou a ideia, porque "quanto mais for o investimento, maior é o prejuízo", já que o incêndio "pode não acontecer para o ano, mas vai acontecer daqui a dois ou três". 

Mirandela, na Terra Quente do distrito de Bragança, é conhecida pelo seu azeite de excelente. São hectares e hectares de olivais, que o incêndio não poupou. Houve produtores que tiveram "perdas totais", com a capacidade produtiva "completamente destruída", segundo avançou à Lusa Francisco Pavão, da APPITAD - Associação Dos Produtores Em Protecção Integrada De Trás-os-montes E Alto Douro. 

Há agricultores que equacionam abandonar a atividade, visto que em algumas zonas é a "segunda ou terceira vez que arde nos últimos 30 anos" e, por isso, as pessoas estão "fartas" de continuar a plantar e depois "vir um fogo e rebentar com as produções".

Em Trás-os-Montes, o olival caracteriza-se por ser de sequeiro, o que significa que são precisos pelos menos "20 anos" para uma oliveira conseguir voltar a produzir no seu potencial máximo.

Com o incêndio, Francisco Pavão reconhece que "vai ter algum reflexo no preço do azeite, porque vai haver menos produção".

Estas preocupações foram transmitidas, hoje, ao município de Mirandela, numa reunião entre o presidente da Câmara, associações de agricultores e presidentes das juntas de freguesia. 

O autarca Vitor Correia explicou que o objetivo foi perceber os prejuízos no concelho, que vão ser reportados à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional que, por sua vez, transmitirá ao Governo. 

Além disso, o município criou um gabinete de "crise", que estará aberto, a partir de segunda-feira, no serviço da Proteção Civil, onde os afetados pelo fogo poderão dirigir-se e pedir ajuda para preencher o formulário para a obtenção do apoio do Governo.

O incêndio de Mirandela deflagrou no domingo e só foi dado como dominado dois dias depois. Chegou a colocar várias aldeias em perigo. 

Leia Também: Sobe para 7 o número de mortes provocadas pelo incêndio no lar de Mirandela

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