Augusto Santos Silva falou deste tema, de passagem, durante uma conferência sobre Mário Soares, intitulada 'Soares e as esquerdas - conflitos e convergências', promovida pela Fundação Res Publica, em Lisboa.
Segundo o ex-presidente da Assembleia da República, "o resultado das eleições legislativas só torna ainda mais óbvio" que o PS deve aproveitar as eleições presidenciais "para fazer delas a afirmação de um movimento eleitoralmente significativo em favor da democracia, porque é isso que está em causa hoje e é para isso que um Presidente ou uma Presidente mais pode contribuir".
"Porque esse tipo de plataforma e esse tipo de 'rassemblement', como diria um francês, me parecem ser não só indispensáveis como bastante oportunos e possíveis", acrescentou.
No fim da conferência, questionado pela agência Lusa sobre quem poderia na sua opinião protagonizar esse movimento, Augusto Santos Silva respondeu: "Constato que nenhum dos candidatos que já se apresentou parece ter essa prioridade e portanto é necessário continuar a tentar encontrar quem a possa protagonizar".
Quanto à possibilidade de uma candidatura sua às presidenciais de 2026, o ex-presidente da Assembleia da República, que nunca excluiu esse cenário, disse: "Não tenho nada a acrescentar ao que tenho dito".
Interrogado se ainda acredita que António Vitorino poderá vir a apresentar-se como candidato a Presidente da República, remeteu a questão para o antigo comissário europeu: "António Vitorino, quando entender, falará".
Esta conferência, que integra o programa das comemorações do centenário do nascimento de Mário Soares, durou mais duas horas.
Em resposta a perguntas da assistência, Santos Silva considerou que, no atual quadro político resultante das legislativas antecipadas de 18 de maio, em que o PS passou para terceira força no parlamento, atrás do Chega, o primeiro conselho de Mário Soares seria "não desanimar" e "olhar para os 900 mil que votaram no PS em 2022 e não em 2025 e partir à sua reconquista".
No seu entender, "do ponto de vista tático, Soares faria o que o PS está a fazer, isto é, poria todas as fichas nas eleições autárquicas, para fazer suceder imediatamente uma vitória política a uma derrota eleitoral tão grande".
Santos Silva manifestou-se também convicto de que o fundador e primeiro líder do PS "não aconselharia a fazer nenhum ziguezague do ponto de vista da linha política" e deixou críticas a autarcas do partido, que não nomeou: "Esse é o erro que, infelizmente, alguns dos nossos autarcas estão a cometer, e vão ver que lhes vai correr muito mal".
De acordo com o antigo ministro da Educação, da Cultura e dos Negócios Estrangeiros, há autarcas do PS que perante "as ideias que agora circulam" decidem "dizer mal dos migrantes" para ver se ganham apoio, mas isso "não dá certo".
Sobre o diálogo entre PS e partidos à sua esquerda, Santos Silva declarou: "Não entendo que seja a prioridade essencial. Acho que a prioridade essencial é mesmo o diálogo com a nossa gente. Há gente que está a fugir e temos que perceber porque é que está a fugir antes de poder fazer alguma coisa".
Relativamente à situação do PCP, descreveu-a como "um processo de suicídio" em curso há anos, comentando: "Confesso que não consigo ver que se lhes pode fazer se não deixá-los morrer".
Quanto ao BE, questionou se "são vítimas do seu próprio modismo, se isto é uma crise passageira" e apontou-lhes falta de sentido crítico.
Santos Silva manifestou-se preocupado com a "mudança profunda" nas atitudes dos mais jovens, sobretudo os rapazes, que classificou como "uma ameaça a valores civilizacionais e a práticas de convivência e de respeito pelos direitos" estabelecidos.
Segundo o antigo ministro, o PS tem de "cuidar da renovação das gerações" e tentar perceber "o que é que está a acontecer com os rapazes mais novos" e que explica a tendência de votação deste eleitorado.
[Notícia atualizada às 22h34]
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