A Classificação de Fases de Segurança Alimentar Integrada (IPC), uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para avaliação da gravidade das crises de fome, declarou, esta quinta-feira, fome na Cidade de Gaza.
"A fome foi confirmada na província de Gaza, com previsão de se expandir para as províncias de Deir al-Balah e Khan Younis até o final de setembro", anunciou o organismo, sediado em Roma, num comunicado.
A declaração foi feita após meses de alertas sobre uma situação de fome no território palestiniano devastado por uma ofensiva de Israel desde outubro de 2023.
"Esta é uma fome que poderíamos ter evitado se nos tivessem permitido. No entanto, os alimentos acumulam-se nas fronteiras devido à obstrução sistemática de Israel", afirmou Tom Fletcher, responsável pela coordenação dos assuntos humanitários das Nações Unidas, numa conferência de imprensa em Genebra.
Segundo o IPC, há mais de 500.000 pessoas a enfrentar "condições catastróficas caracterizadas por fome, miséria e morte". Há ainda "outros 1,07 milhões de pessoas — mais da metade da população — enfrentam níveis de emergência de insegurança alimentar aguda".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel já veio afirmar que "não há fome em Gaza" e acusou a agência a ONU de se basear em "mentiras do Hamas".
"A IPC acaba de publicar um relatório 'feito sob medida' para a campanha enganosa do Hamas", destacou num comunicado, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP), acrescentando que o relatório "baseia-se em mentiras do Hamas, propagadas por organizações com interesses pessoais".
Para decidir se a situação é de fome, as Nações Unidas recorrem às suas agências especializadas sediadas em Roma - o Programa Alimentar Mundial (PAM) e a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) -, que, por sua vez, dependem de uma ferramenta técnica: o IPC, que se baseia numa escala de padrões científicos internacionais.
Numa nota na rede social X, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhamon Ghebreyesus, alertou que "esta desnutrição generalizada, causada pelo homem, significa que mesmo doenças comuns e geralmente leves, como a diarreia, estão a tornar-se fatais, especialmente para as crianças".
"Gaza precisa de ser urgentemente abastecida com alimentos e medicamentos. Os bloqueios à ajuda humanitária têm de acabar!", frisou.
.@theIPCinfo has just confirmed #famine in #Gaza governorate.
— Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) August 22, 2025
This man-made, widespread malnutrition means that even common and usually mild diseases like diarrhoea are becoming fatal, especially for children.
Gaza must be urgently supplied with food and medicines. Aid… pic.twitter.com/gdHCXczUU9
Sublinhe-se que a guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas no sul de Israel, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
A ofensiva israelita que se seguiu ao ataque provocou mais de 62.100 mortos até agora, segundo dados do governo do Hamas, que controla o território desde 2007.
O grupo extremista é qualificado como uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
[Notícia atualizada às 10h47]
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