Luís Filipe Vieira, um dos seis candidatos à presidência do Benfica, enviou, esta quarta-feira, uma carta aberta aos sócios dos encarnados, na qual deixou duras críticas à Mesa da Assembleia-Geral (MAG) encarnada.
Vieira não poupa na atuação da MAG no dossier do processo disciplinar que lhe ia ser instaurado, referindo ainda ter sido alvo de "cobarde iniciativa" em junho, quando membros dos atuais órgãos sociais o tentaram impedir de ser candidato.
O antigo presidente das águias criticou também o processo eleitoral em curso, nomeadamente as regras para a implementação do voto eletrónico, exigindo "inequívoca transparência, imparcialidade e lisura de procedimentos".
Leia a carta de Luís Filipe Vieira na íntegra:
"Caras e caros Benfiquistas,
Dirijo-me a vós na qualidade de sócio, mas sem me alhear das responsabilidades de anterior Presidente do Sport Lisboa e Benfica e interessado nas eleições agendadas para o próximo Outubro de 2025.
Como sabem, nesta semana anunciarei os fundamentos de uma decisão que já tomei sobre uma candidatura aos órgãos sociais. É o superior interesse do Benfica que a impõe, como a maioria de vós reconhecerá.
É neste especial contexto que analiso criticamente aquilo que vai sendo dado a conhecer sobre a organização do processo eleitoral.
No centro de várias divergências está, infelizmente, a Mesa da Assembleia Geral em funções.
Espera-se deste órgão inequívoca transparência, imparcialidade e lisura de procedimentos, especialmente na relação com os sócios que se proponham como candidatos. Não são suficientes as proclamações; contam, sim, as ações.
Da minha parte, declaro publicamente que não admitirei qualquer tipo de discriminação entre candidatos e zelarei para que sejam os benfiquistas a decidirem, com o seu voto, os destinos do Clube no mandato de 2025-2029.
Recordo que em Junho deste ano fui alvo de uma cobarde iniciativa, de certos e identificados membros de alguns órgãos sociais, que me queriam impedir de candidatar, através de um descabido processo disciplinar. Tenho evidências da participação ativa de um dos membros da Mesa da Assembleia Geral nessa intentona, agindo em completo desrespeito por regras estatutárias que salvaguardam a separação de poderes.
Em conluio, chegou a estar agendada uma reunião de direção – a realizar a partir de Miami (!) – para formalizar a instauração do tal processo disciplinar contra mim. Invocava-se, até, uma inexistente reunião de Direção de Abril de 2025.
Apurei que um membro da Mesa da Assembleia Geral indicou à Direção o instrutor que acompanharia o processo e com ele estabeleceu contactos preliminares sobre o mesmo e que esse membro, conjuntamente com um Administrador da Benfica SAD, até estiveram envolvidos na definição de honorários.
Um processo disciplinar montado a partir de inexistências e ficções, urdido em cúpula e com a participação de um dos membros do órgão de recurso. Incompreensível e inaceitável.
Recuaram. Perante a lei e os estatutos tinham de recuar. Mas não deixarei passar em claro o sucedido. Irei apresentar uma participação para apuramento de responsabilidades.
É sobre este registo de condutas recente, a que se soma o retardamento na votação da revisão estatutária (convém não esquecer), que me interrogo sobre o comunicado da Mesa da Assembleia Geral de 8 de Agosto.
Quando se diz que “a preparação deste processo está em curso há largos meses”, questiono, publicamente, a Mesa da Assembleia Geral como é possível ainda não serem conhecidos os locais onde serão instaladas as secções de voto em Portugal continental.
A menos de dois meses e meio do ato eleitoral os sócios benfiquistas dos distritos de Bragança, Vila Real, Viana do Castelo, Guarda, Portalegre, Beja e Faro, por exemplo, não sabem como se devem organizar para irem votar. Não sabem estes e os sócios dos outros locais quantas secções de voto estarão disponíveis em cada Distrito, não sendo concebível que optem por não votar devido à impossibilidade de percorrerem distâncias desmobilizadoras. É isso que os titulares dos órgão sociais pretentem?
Acresce que a indefinição existente se deve, em parte, à omissão da Direção em apresentar uma proposta de regulamento eleitoral, que deveria ser aprovado em Assembleia Geral. Percebe-se mas critica-se a opção da Direção e da Mesa em não apresentarem à soberana decisão dos votos as regras para as eleições mais participadas de sempre, superando o escrutínio histórico de 2021.
É para este propósito que se alertam os sócios residentes nos arquipélagos dos Açores e da Madeira e os que residam fora de Portugal que pode estar em curso um intencional processo de os afastarem do ato eleitoral. A Mesa da Assembleia Geral – alheando-se de responsabilidades – informa no dito comunicado de 8 de Agosto que – apenas - poderão exercer o voto por meios eletrónicos se todas as candidaturas formalizadas o consentirem. Ora, é público que algumas dessas intenções de candidatura, pautadas por ostensivo taticismo eleitoral, querem confinar o voto aos sócios que o passam fazer presencialmente. Num clube com mais de 400.000 sócios conformam-se – esses candidatos - que votem apenas aqueles que residam nas proximidades dos locais que a Direção e Mesa definirem como “adequados”.
A Mesa tem o dever de zelar pelos interesses de todos os sócios – e não apenas dos apoiantes de algumas candidaturas - incluindo os que se identifiquem com a putativa recandidatura de membros da Direção em funções e, quiçá, de membros da própria Mesa!
Não será o conflito de interesses, que desde já se denuncia, que decidirá sobre o processo eleitoral e sobre as eleições do Sport Lisboa e Benfica. Serão os sócios!
É, por isso, que defenderei que, através de voto eletrónico, ou de qualquer outro modo de votação à distância, seja garantido o direito de voto aos sócios que não residam no Porto, em Braga, em Coimbra ou em Lisboa. O Benfica é um Clube do Mundo, não é dos locais que a conjuntura define.
Contem comigo!"