Oitenta e três crianças com idades compreendidas entre os oito e os 17 anos participaram num exercício militar na margem do rio Don, na região de Rostov, no sul da Rússia, esta semana. O evento, que foi supervisionado por soldados que estiveram na linha da frente na guerra na Ucrânia, visou educar e preparar os menores para um eventual serviço militar.
“Lançámos granadas de mão e disparámos tiros simulados”, disse Ivan Glushchenko, de oito anos, quando questionado quanto à sua parte preferida do exercício.
Já Anton, um dos rapazes mais velhos do grupo, confessou que ambiciona integrar as forças armadas do país.
“Porque estou aqui? Porque quero ligar o meu futuro ao serviço militar. Quero servir o meu país e ser leal à minha causa até ao fim”, especificou, em declarações à agência Reuters.
“Quase morri”, exclamou uma adolescente, no final do treino.
“Fizemos a corrida três vezes”, replicou uma amiga, abraçando-a.
Apesar de as autoridades russas terem indicado que este tipo de eventos visam incutir um patriotismo saudável e construir resiliência nacional junto dos mais pequenos, críticos como a organização de direitos das crianças Ne Norma argumentaram que submeter os jovens a treinos militares e ensiná-los a manusear armas e a construir drones militares na escola são formas de doutrinação e propaganda.
Um dos instrutores era Alexander Shopin, um soldado russo que ficou ferido na Ucrânia e que aguarda uma intervenção cirúrgica.
“Não é a primeira vez que participo. Gosto de transmitir a minha experiência às crianças. É possível ver como uma família se forma”, disse.
Uma das filhas do soldado esteve entre os ‘cadetes’ e, de acordo com o pai, gostou do exercício, apesar de o ter achado difícil.
Por seu turno, o instrutor Vladimir Yanenko indicou que as crianças adquiriram “compreensão e conhecimento” com a experiência.
“O treino patriótico é muito importante. Elas não querem ficar nas ruelas. É muito mais divertido estarem aqui”, disse.
Saliente-se que, no mês passado, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) revelou que a Rússia está a formar crianças e adolescentes ucranianos na região ocupada de Lugansk para atuarem como operadores de drones no setor de defesa russo.
Um relatório do organismo citava meios de comunicação social daquela região no leste da Ucrânia, que noticiaram em 30 de junho que 20 crianças participaram na etapa regional da competição de operadores de drones 'Pilotos do Futuro-2025', promovida pela organização de ativismo juvenil russa Movimento dos Primeiros, a Federação Russa de Corridas de Drones e o Ministério do Desporto da autoproclamada República Popular de Lugansk.
O documento assinalava ainda que a Rússia está a tentar incentivar a participação dos jovens em programas de drones, usando os jogos e as competições como método de atração, como é o caso da prova 'Pilotos do Futuro-2025'.
A deportação forçada de crianças e adolescentes ucranianos para a Rússia levou o Tribunal Penal Internacional (TPI) a emitir, em março de 2023, mandados de detenção contra o líder do Kremlin, Vladimir Putin, e a comissária para os Direitos da Criança, Maria Lvova-Belova.
As autoridades de Kyiv enumeram pelo menos 20 mil menores deportados, havendo relatos de entregas para adoção, processos de aculturação russa e ainda treino militar precoce.
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